domingo, 26 de setembro de 2010

Se desse para medir coragem não me diriam que sou pequeno demais para ganhar.

Fruto proibido

Ela veio ligeiramente até mim,

fixou meus olhos e me disse assim:

- Oi, quer uma maçã?

Como uma ilusão macieira,

falsa compaixão,

uma paixão passageira.

Verruga de bruxa,

ternura de princesa,

mas veneno de cobra

rastejando se desdobra.

Depois veio novamente até mim,

fixou meus lábios e me disse assim:

- Gostou da maçã?

Fez-se então pergunta retórica

todos sabiam a finalização histórica

dessa vez sem nenhuma dúvida,

dádiva de feiticeira,

murcha de saída rasteira,

nem sentiu olhar de desgosto

contentou-se com o destino preposto

e sem deixar rastros visíveis, partiu.

Não mais veio até mim,

fixou meu peito, deixou assim,

com uma pena serena

sem desejo de vingança.

história de criança, final com esperança,

verdadeira compaixão.

Pois apesar de ter me feito mal,

foi ela quem rastejou ao chão, e fez esse final.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Metade


Metade é maldade, metade é só meio...
metade é maldade, eu quero um inteiro.
Metade não é o suficiente,
metade é um jeito de enganar a gente.
sou metade, sou dois quartos
Alma gêmea que morreu no parto
Um meio só, no meio de meios inteiros,
meios de aceitar ser metade e esperar ser inteiro.
Metade é de dois, mas sou só um.
Um só, esperando minha arcanja cupida sair do jejum
Arcanja, pare de comer só metade de uma laranja !

domingo, 12 de setembro de 2010

Inexplicável

Explicar que sente o que ninguém consegue entender

E que entende o que ninguém consegue sentir.

Explicar o amor, o poema, e o som de uma cena, em dezenas de palavras.

Palavras amadas, sentidas, sofridas e choradas.

Tentar explicar a quem me pergunta o que sinto,

em um pequeno sucinto, apenas um quinto,

um quinto faminto por mais, um quinto que com pouco não se satisfaz.

Dizer que existe sentimento sem nome, algo que come a fome de viver.

Que faminta a vontade de morrer, de repente a vida perde o odor e só me

resta o resto da palavra, a dor.

Talvez seja meu refúgio, minha parte mais pura

Minha proteção de mim mesma, minha cobertura.

Então porque não posso controlá-la? É minha rosa de espinhos

Minha holoparasita, protege-me da dor, mas é ela minha ferida.

Tira o sofrimento, leve então minha vida.

Minha alma clama por repouso, e mesmo vagando, correndo do castigo

escorrega nas poças em dia chuvoso, muito frágil tem medo de perigo

e apesar do outro dia de amanhã, nada amanhecerá.

Eu ainda acordo, e a bordo de um navio sem fuga, apenas concordo.

Te devo por minha melodia, por minha melancolia, arritmia

Tens sido a inspiração, motivo de composição.

Domina, e eu te permito, suga-me meu mel

bem vagarosamente até que eu não possa sentir mais nada

nem ao menos reagir, serei sua hospedeira.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ausência sua

A estrada vai me afastando,

Fora do carro as paisagens passam depressa,

mas aqui dentro tudo está tão quieto,

e nessa travessia nada me interessa

pois só ele terá de meu afeto.

Eu fui jogando pequenas pétalas ao chão

imaginando que seguirias do pólen cada grão

mas as flores murcham, morrem, pra lá de meu amado,

e o caminho de volta não pode ser assinalado.

O pior, é que sem você nada faz sentido,

é sua voz que sussurra em meu ouvido,

se o melhor de todos meus sentidos, diz por certo,

o sentido, o rumo do trajeto está incerto.

Minha sina é essa de odiar a sua distância

e de amar cada centímetro que nos aproxima

em nossa dissonância...

de acordes mal encaixados, de versos espalhados

nos rabiscos do destino, que criou esse amor peregrino.

Continuo vivendo querido, amar demais é meu castigo,

mas mesmo amando, eu grito,

mesmo querendo seguir, eu fico.

Toda noite eu te chamo, todo sonho te encontro,

quando acordo me perco, e perdida eu te clamo,

com meu peito aflito, eu admito, te amo

só que triste, eu escuto o eco de minha voz.

É vago. Vago sem rumo, sem entender nós dois.

É raro lembra você e me contentar com o depois.

não esquecerei a promessa que selou,

na saliva de um beijo que concretizou...

a assertiva incerteza de continuarmos juntos

nos sonetos e nos versos de nosso amor desconjunto.

Canção de amor

Escuto uma musica no rádio,

só pode ser...

É, mais uma canção de amor.

Existe o céu, existe o mar,

mas todos pensam que isso é amar.

E a pobreza ? A violência,

ninguém com consciência.

Mas é só uma canção de amor

Tem a fome, e a matança, só que a mídia lança

rimas linda em paixão

e só amor nessa canção

Crianças choram, crianças morrem

e os adultos da verdade correm

Força de habito, não de expressão,

por que no rádio só toca canção de amor.

O verde acaba, animais somem,

pais estupram, filhos morrem.

Ninguém se ama, ninguém se respeita,

e mesmo assim ainda escrevem

Mais uma canção sobre amor

Quem se importa com o sistema,

ou com o dinheiro que corrompe,

se o lema é matar pra vencer,

se o lema é matar ou morrer.

Só isso agente tem para aprender...

As escolas só sabem ensinar

a entender a canção de amor.

Amor, que amor?

Mãe terra

Sei que você é o vento que acaricia meu cabelo,

a brisa que arrepia meu pelo.

Pintou os animais de companheiros,

escreveu tudo em um roteiro,

como as águas que correm no ribeiro

Sei que és o céu.

Nas noites, faz a escuridão com seu véu.

Fazes a chuva em um respingo de pincel

e com o arco íris alegra a imensidão.

Imensidão que não te traz de volta tal alegria!

E bem que você podia...

Podia sim revidar tamanha tristeza

de quem te machuca, natureza

Mas és a calma das águas do mar,

faz as ondas, que acariciam, ensina a amar.

És o sol que me aquece de calor,

estás em meu corpo meu amor.

Você sou eu, eu sou você,

como posso te fazer mal ?

Se nunca me esquecer,

que tudo isso é natural.

Não existirá ofensa se a consciência existe,

nada te deixará triste.

Mãe, escute bem.

Vou te defender, já não sou a única das que crêem.

Vou viver você, e vives em mim,

seremos uma só assim.

Se alguém te machucar, me machuco contigo,

todo que o fizer também será meu inimigo.

Vou batalhar por você, beleza,

por que amor é de minha natureza

Rosa pura

Agora eu vejo as folhas que caem da arvore,

o verão passou tão depressa.

Os batimentos de um coração em mármore

quase me fizeram esquecer daquela promessa

de te escrever...

Rosa minha não te deixarei morrer

rosa minha não morra, fuga, corra!

Quando a vida adulta vier te dominar

corra para baixo da cama, eles não iram te achar.

Logo mais eu irei ao teu encontro, encanto,

chegarei para te molhar com lágrimas de meu pranto.

de alguém cansado, fadigado de tédio

que não se acalma, não imagina remédio.

Rosa minha cor de rosa, te escrevo de um planeta bem distante,

os anos passam como se fosse um só instante.

Agente corre bastante, agente morre bastante.

Quase ninguém te enxerga mais,

qualquer sonho aqui se desfaz.

Eu sei que para te ver devo desabotoar o terno, tirar os sapatos

E então levantar os pés do chão.

E ai flutuar, fugir dessa prisão,

Dessa loucura, amargura humana de matar sua metade

De calar sua vontade de criar, e brincar com a verdade.

Ficai viva em mim rosa pura, salvai-me.